Se eu pedisse para você imaginar um espaço onde se sinta bem e relaxado, qual lugar imaginaria? É muito provável que, seja qual for o espaço concebido, você tenha imaginado elementos tais como: presença de plantas, iluminação natural, conexão com o exterior, ou seja, presença de natureza.
Mas por que isso ocorre? Por que nos sentimos relaxados em ambientes nos quais temos contato com a natureza? Por que milhões de pessoas ao redor do mundo se deslocam todos os anos para ambientes naturais como praias, montanhas e campos a fim de “recarregarem suas baterias”?
A resposta é simples. Por milhares e milhares de anos esse foi nosso habitat natural. Somos parte da natureza. Mas ao longo de nossa evolução nos distanciamos cada vez mais dela. Com o passar dos anos e com a “civilização” trocamos a natureza por tetos e paredes.
Hoje, estamos cercados de ambientes construídos. E passamos 90% de nossas vidas nesses espaços. Viver sem luz natural e ar puro afeta nossa saúde e bem estar. Hoje, pagamos um preço alto por deixar a natureza para trás.

Estudos em neurociências aplicadas a arquitetura comprovam que os ambientes impactam no nosso comportamento e em nossa saúde. O ambiente realmente influencia no desenvolvimento do indivíduo. O relatório da OMS (Organização Mundial de Saúde ) de 2018 aponta que:
STRESS - é a quarta doença mais diagnosticada no mundo e que 1 a cada 4 brasileiros sofrem de stress.
DEPRESSÃO E ANSIEDADE - O Brasil é o primeiro lugar na América Latina - 5,8% da população sofre com esses problemas.
DEPRESSÃO E SUICIDIO - 1 milhão de pessoas se suicidam no mundo por ano. 32 pessoas por dia no Brasil. O suicídio entre adolescentes cresceu 24% no Brasil.
OBESIDADE - Estima-se que em 2025 mais de 50% da população mundial seja obesa.
"As pessoas reconheceram que nos últimos 50 anos, nosso estilo de vida mudou, e vimos um aumento de doenças crônicas e obesidade, e as pessoas sendo menos ativas", diz Katharine Johnston, pesquisadora e coautora do Relatório do Instituto Global Wellness. Todas essas questões estão relacionadas ao nosso estilo de vida, hábitos e vida diária, e principalmente onde vivemos. Os ambientes impactam no cérebro, nas emoções e no comportamento das pessoas. E se isso pudesse ser diferente? Como podemos nos reconectar com a natureza?
A palavra biofilia vem do grego e quer dizer bios – vida e philia – amor. O termo Biofilia foi utilizado pela primeira vez por Edward Wilson em 1986 em seu livro “Biophilia” - e foi por ele definido como “a inerente inclinação humana para se afiliar à natureza que, mesmo no mundo moderno, continua sendo essencial para a saúde física e mental e o bem-estar das pessoas”.
Mais tarde, o professor Stephen Kellert, em 2007, a define como “a necessidade de manter, melhorar e restaurar a experiência benéfica da natureza no ambiente construído.”
Mas quais são os benefícios que o contato com a natureza pode nos trazer?
Estudos mostram que a exposição ao ambiente natural, entre outros, é capaz de reduzir os níveis de estresse no organismo, abaixar a pressão sanguínea, diminuir a percepção de dor, melhorar na recuperação após doenças, melhorar a performance em ambientes de trabalho, reduzir o número de conflitos em ambientes hospitalares, maior felicidade, bem estar e satisfação com a vida, agressão diminuída e aumento do comportamento pro social e conexão social.

Entendendo que o contato com o ambiente natural é uma necessidade fundamental para a nossa saúde física e mental, podemos dizer que essa nova forma de trabalhar o ambiente construído tem o objetivo de conceber espaços capazes de promoverem a saúde, o desenvolvimento e a qualidade de vida das pessoas.
O design biofílico segue alguns princípios tais como: requer um envolvimento repetido e contínuo com a natureza; concentra-se em adaptações humanas ao mundo natural que, ao longo da evolução, tem promovido a saúde e o bem-estar das pessoas; estimula uma ligação emocional com configurações e lugares específicos; promove interações positivas entre as pessoas e a natureza que “estimulam um senso ampliado de responsabilidade e conservação” com as comunidades humanas e naturais; incentiva soluções de design ecologicamente conectadas, mutuamente reforçadas e integradas.
E como usar a biofilia nos projetos de interiores?
O design biofílico pode ser utilizado através de experiências diretas da natureza, que é o contato real com características do ambiente natural no ambiente construído, de experiências indiretas da natureza cujo contato é com a representação da natureza ou com a transformação da natureza a partir da sua condição original, e através de experiências de espaço e lugar, que é o contato com características espaciais do ambiente natural que promovem saúde e bem-estar humanos.
Dentre as experiências diretas da natureza podemos citar algumas tais como:
Utilização de luz natural através de painéis de vidro, janelas e átrios, é um elemento importantíssimo que sincroniza nosso ritmo circadiano sendo vital para nossa saúde.
A ventilação natural é outro elemento que traz a Natureza para o interior, proporcionando a sensação de conforto necessária a uma boa produtividade, seja através de janelas, varandas e decks.
Associado à luz e ventilação natural surge um outro elemento: a percepção do clima. É muito importante para o ser humano ter noção das condições climaticas que estão a acontecer no exterior, uma vez que lhe dá sentido de orientação.
A água quando perto de nós alivia o stress, promove a satisfação, melhora a saúde e o rendimento, podendo ser usada em aquários, fontes, música de fundo, painel de parede.
Um outro elemento que nos remete à Natureza é a vegetação. As plantas, em vasos, jardins, paredes verticais, telhados verdes, reduzem o estresse, contribuem para a saúde física, melhoram o conforto, o desempenho e a produtividade, além da purificação do ar e da redução do nível de ruído.
Utilização do fogo, nas lareiras por exemplo, trazem conforto, sensação de acolhimento, calor, redução da pressão arterial e nos torna mais comunicativos.
Como experiências indiretas da natureza podemos citar:
O uso de imagens da natureza como figuras, pinturas, esculturas e vídeos, que nos transmitem a sensação de tranquilidade e diminuem a ansiedade.
O uso de materiais naturais como pedra, lã, madeira e algodão. A transformação de materiais da natureza frequentemente provoca respostas visuais e táteis positivas, que poucos materiais artificiais podem duplicar.
As cores naturais refletem o papel que a cor desempenhou para os primeiros seres humanos. Assim os verdes que vem das plantas, os azuis dos oceanos, rios e céu e os tons terrosos dos solos e rochas, são muito utilizados no design biofílico.
As formas curvas, orgânicas e sinuosas transformam um espaço estático em dinâmico, com qualidades ambientais e vivas.
Como experiência de espaço e lugar podemos citar a mobilidade e way finding que são caminhos claros entre os espaços e uma relativa facilidade de movimento entre as configurações; a conexão ecológica e cultural ao lugar que promove uma ligação emocional, motivando as pessoas a conservar os ambientes construídos e a integração das partes com o todo criando conexões entre várias características de um espaço para compreender uma experiência ecológica coerente e ter uma identidade global.
O Design Biofílico, portanto, é mais do que apenas a adição de um ou dois vasos de planta. É um conjunto de elementos como luz natural, vegetação, materiais e texturas naturais que juntas proporcionarão um impacto positivo em nossas vidas.
Uma última consideração é que as estratégias citadas acima devem ser pensadas com o foco nos seus usuários pois o que pode ser agradável para algumas pessoas pode ser irritante para outras. Dai a importância do profissional na condução do processo. Assim podemos fazer projetos mais assertivos contribuindo para a saúde e bem estar de seus usuários.
Finalizo então com uma frase do arquiteto Frank Lloyd Wright que diz “ Estude a natureza, ame a natureza, fique perto da natureza. Isso nunca falhará com você.”